Artigos sobre Paulina Chiziane (Jornal de Noticias) 4

Cultura em tempo de Natal junta jovens em Laulane
“O FIM da Melancolia” é o título de uma peça teatral que a Associação Cultural Phukane, formada por jovens de Laulane, pretende levar ao público durante a quadra natalícia. A obra é representada por um conjunto de jovens deste bairro e outros idos dos vizinhos Mahotas e Ferroviário, no que eles consideram intercâmbio cultural.
A peça conta a história de uma criança que veio ao mundo para livrar a humanidade da vida melancólica em que esta estava mergulhada há mais de mil anos, sem que as soluções fossem previsíveis.
Após a chegada da criança à terra, ela reuniu os povos de todos os quadrantes para anunciar-lhes o fim do sofrimento, bastando apenas o cumprimento das leis da Bíblia Sagrada e o respeito pelo semelhante, tendo sido primeiramente as suas palavras rejeitadas por grupos de pessoas que consideravam que ninguém era capaz da acabar com o sofrimento dos Homens.
De acordo com o encenador da peça. Alexandre Cuna, esta história assemelha-se à da chegada de Jesus Cristo e apela aos Homens para a necessidade de se precaverem dos perigos existente no mundo e que segundo o livro sagrado dos cristãos, para se ultrapassar esses obstáculos é necessária a união das forças humanas. Também se destina a reflectir sobre a forma como os mandamentos de Deus são concebidos e o poder que eles têm de transformar a vida do Homem.
A apresentação desta acontecerá numa sessão que incluirá várias outras realizações culturais, como são os casos da declamação de poesia, cantos diversos, música e interpretação de obras literárias.
As crianças estão encarregues de apresentar danças tradicionais e cantos exigindo os seus direitos e pedindo aos seus progenitores bons cuidados e apelando aos adolescentes e jovens para uma mudança de comportamento.
Cristina Macamo, representante das crianças naquele espaço de manifestação cultural, disse que actividades levadas a cabo por crianças visam mostrar aos pais e encarregados de educação do que elas são capazes, ao mesmo tempo que se apela para que auxiliem os petizes a descobrirem e desenvolverem as suas habilidades.
Entretanto os jovens irão subir ao palco para manifestarem-se culturalmente assim como declamar poesia e interpretar obras de autores moçambicanos com destaque para José Craveirinha, Mia Couto, Noémia de Sousa e Paulina Chiziane, considerados figuras emblemáticas da literatura moçambicana.
  
“Das Palavras Escritas” colocado nas livrarias
É LANÇADO amanhã, no Instituto Camões, em Maputo, o livro “Moçambique: das Palavras Escritas”, organizado por Margarida Calafate Ribeiro e Maria Paula Menezes. A obra será apresentada pelo Professor Doutor Nataniel Ngomane e conta com a presença das autoras. Esta obra desafia e convida os leitores a uma viagem de encontro com Moçambique, e com as palavras de escritores como Luís Carlos Patraquim, Mia Couto, Paulina Chiziane, entre outros. À par das leituras críticas que deles e de outros autores vêm sendo produzidas, questiona-se o panorama da literatura moçambicana; como se revela, os seus autores e que sabedorias trazem as suas vozes. 

Diccionário político moçambicano - G. de governação
NO início até cheguei a pensar que se tratasse de uma daquelas palavras brasileiras. Governação. Estilo “gozação” ao invés de “gozo”. Não é que nunca tivesse ouvido a palavra “governação” usada num contexto linguístico do Português de Portugal. Que eu saiba, essa palavra referia-se, todavia, ao estilo particular de um governante. Portanto, “governação”, a palavra, refere-se ao individual e tem fortes elementos de criatividade. Governar é o fenómeno geral ao qual um indivíduo, qual intérprete, dá cunho pessoal. É como na música. Existe o fenómeno geral da composição original. Stewart pega na bela composição “alirhandzo” de Hortêncio Langa e Arão Litsuri e interpreta-a de novo, chamando à atenção do nosso ouvido aspectos musicais que não tínhamos devidamente apreciado na composição original. Ou mesmo os nossos músicos electrónicos de hoje que pegam na bela composição “mina na wena” de Pedro Ben interpretam-na esvaziando-a de todo o sentido “revolucionário” e estético que continha. Quer Stewart, quer os músicos electrónicos estão a ser criativos, ainda que na base de algo que já existe.
O conceito de “governação” é contra a criatividade. Introduz ordem. Governar não é coisa de prioridades individuais, formas de negociação individuais, atenção ao momento, sensibilidade para o local, empatia. Nada disso. Governar é fazer o que é correcto. E fazer o que é correcto é respeitar à risca o fenómeno geral. O mundo reduz-se ao fenómeno geral. O fenómeno geral insinua-se em tudo, reproduz-se em tudo, toma tudo de assalto. O uso que se faz da língua nos nossos dias é arrepiante. Empresas, organizações não-governamentais, e mesmo clubes desportivos têm uma “filosofia” e distribuem “literatura”. Filosofia? E o que escreveu Immanuel Kant? Também filosofia? Não há diferença? Enfim! Dizem que têm literatura. Literatura? Se esses panfletos publicitários são “literatura”, então o que andaram a escrever o Mia Couto, o Ungulani Ba Ka Khosa, a Paulina Chiziane, o Luís Bernardo Honwana, o João Paulo Borges Coelho? Também literatura?
Os mais arrojados não se contentam em dizer “governação”. Até lembra o “Animal Farm” de George Orwell. Dizem “boa governação” e fica aquele sabor amargo na boca que vem daquela ideia de que algumas pessoas podem ser mais iguais que outras. Bom, não vou insistir muito nisto, porque senão ainda me vejo obrigado a convocar uma revolução linguística para expurgar a nossa língua dos eufemismos que nos obrigam a ser cada vez mais verbosos na fala. É assim mesmo com a inflação. Quanto menos valor tem a palavra, mais palavras precisamos para comunicar uma simples ideia. Temos “parceiros” que não são parceiros. Temos “deputados” que não são deputados. Temos um “partido” que na verdade sempre foi um todo. Temos “empresários” que na realidade são simples “facilitadores”. Temos “universidades” que são particularidades. Mas que estou eu a dizer de novo? Já os Ghorwane tinham falado destas coisas na sua composição sobre o nosso mundo do avesso.
O que acho realmente interessante no conceito de “governação” é a forma fria e cruel como liquida a criatividade. Na verdade, para os bem intencionados, aqueles que ainda poderiam dizer, em defesa do conceito, que o estilo pessoal pode significar também corrupção, nepotismo e clientelismo, diria eu que essa é a forma como o conceito se impõe. Reduz a criatividade ao que não é bom. Ser criativo é governar mal. Governar bem é seguir a regra. Seguir a regra é ser aborrecido. Ser aborrecido é que é bom para o desenvolvimento. Precisaria de muito espaço para explicar o assunto com cuidado, e, felizmente, tenho a desculpa de que não tenho tempo para procurar esse espaço, pelo que o que posso mesmo dizer por enquanto é que o conceito de governação não é a solução dos nossos problemas, mas sim o problema. É assim: para fazer o que é correcto é preciso criar primeiro as condições. Por exemplo, para que o sistema de prestação de contas funcione sem a nossa criatividade natural, é necessário que seja montado. Para o montar, é necessário consultores, seminários, “workshops”, estudos de avaliação de impacto, viabilidade, progresso, reuniões de concertação, grupos de contacto, formação de monitores, formadores, disseminação, sensibilização dos grupos-alvo, assessoria técnica, definição clara das regras de “procurement”, formação de oficiais de aprovisionamento, articulação com o Plano Económico e Social, integração no PARPA II, ajustamento com o mecanismo de revisão de pares, auscultação do Grupo-20, verificação de compatibilidade com a Agenda 2025, integração nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, reconciliação com os 7 milhões, etc. E cada uma destas coisas vai criando os seus próprios mundos, os seus interesses, conflitos, zonas de tensão, oportunidades de empreendedorismo secundário, etc. Quando é que ainda vão ter tempo de governar?

  • ELÍSIO MACAMO - Sociólogo /Nosso colaborador

Plano Nacional de Leitura: Tábua de salvação para dinamização literária
“A leitura torna o homem completo, a conversação torna-o ágil e o escrever dá-lhe precisão”. - Francis Bacon  (1561-1926),  Filósofo Inglês.
Importância do incentivo a hábitos de leitura e gosto pela literatura
 O que temos constatado[1] em Moçambique  é que, com certeza, os programas de incentivo ao gosto pela leitura e pela literatura têm surtido algum efeito, na medida em que, são transformadores de consciências, geradores de mais leitores e dinamizadores literários e, até certo ponto, de novos escritores.
Tal é o caso de escritores surgidos dos núcleos, associações ou movimentos literários Charrua[2], Xitende, Oásis e União Nacional de Escritores – UNE, surgidos nos anos 90; uns como resultado do trabalho realizado pela Associação De Escritores Moçambicanos – AEMO e outros com intuito de se afirmarem perante a hegemonia daquela associação. Existem, também, escritores que não estando integrados em nenhum desses movimentos, merecem ser mencionados na arena literária moçambicana. Refiro-me à Paulina Chiziane, Márcia dos Santos, Sónia Sultuane, Awaji Malunga, João Paulo Borges Coelho, Rogério Manjate, Stélio Inácio, Adolfo Sapala,  Adelino Timóteo, entre outros.
O que se tem verificado, com algum desencanto, é o facto de o livro ainda ser considerado objecto de luxo, pelo preço a que  é vendido e por causa disso a literatura fica relegada ao lugar de fenómeno para uma elite.
Este elitismo choca sobremaneira aquilo que são os objectivos do milénio, uma vez que eles preconizam a erradicação da pobreza. Acredita-se que o êxito nessa tarefa passa pela valorização da cultura que pressupõe a inclusão social (PNUD 2004), a criação de hábitos de leitura e consequentemente da literatura que deverão permitir a execução adequada de prioridades económicas como a saúde e a educação.
A cultura determina a maneira e a qualidade pela qual qualquer actividade económica é realizada e, por isso, uma aposta baseada na sua disseminação poderá fortalecer a economia de um país,  por permitir: a formação da identidade; o exercício da cidadania; a participação social,  através da qual qualquer cidadão pode usar das suas habilidades para se expressar, quer pela música, cinema, teatro, jornalismo, dança, literatura ou pela moda (MERCADANTE: 2003).
A cultura permite ainda uma inclusão social feita através da geração de renda que propicia a criação de emprego e de mão-de-obra e venda de produtos artísticos, ou a comercialização de manifestações artísticas.
Em Moçambique, o fenómeno cultural está longe de ser o alicerce para o desenvolvimento do país. No que concerne ao livro, embora existam programas e projectos institucionais dedicados especialmente à leitura e a literatura, ainda não há resultados animadores. A questão que se coloca é que muitos desses programas são efémeros, outros há que não se expandem à uma dimensão nacional. Outros ainda, por serem de carácter obrigatório, não surtem o efeito desejado.
 Programas de promoção de hábitos de leitura e gosto pela literatura
 Estudos feitos por especialistas ou instituições ligadas `a promoção do livro revelam que a leitura e o gosto pela literatura não são um dado adquirido. Dessas pesquisas parece-nos pertinente mencionar:
Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação - INDE que realizou entre 1993/94 uma pesquisa com a qual concluiu que em Moçambique não se lê.
Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa - FBLP que efectivou em 1995[3] dois inquéritos para apuramento de hábitos de leitura. Esses inquéritos mostraram que, aparentemente, as pessoas gostavam de ler.
Porém, tal como o estudo refere, alguns lapsos no preenchimento do formulário de inquérito e o universo escolhido poderão ter influenciado a conclusão pois, os hábitos de leitura estão relacionados com a profissão e a ocupação dos inquiridos. Mais ainda, aqueles indivíduos sugeriram que liam mais livros técnico - científicos, jornais e revistas do que literatura de ficção.
A “Revista Proler”, propriedade do FBLP, entre 2001 e 2002 fez várias entrevistas que deixaram claro que é urgente o incentivo aos hábitos de leitura, nos estudantes, e que o  gosto pela literatura passa pelos hábitos de leitura, entre outros.
Nesse quadro que demostrou que ainda não há hábitos de leitura em Moçambique, a revista revelou que 80% dos frequentadores de bibliotecas fazem-no por motivos escolares.
Perante o pano de fundo acima descrito perguntamo-nos sobre qual a possibilidade de contribuir com novos saberes ou novas dinâmicas e criação literária capazes de incentivar mais e mais leitores, escritores e dinamizadores literários? Perguntamo-nos ainda  se a causa da falta de hábitos de leitura ou de valorização do livro devia-se à ausência de programas de incentivo e dinamização literária.


Lourenço do Rosário
Jornalistas devem distanciar-se das paixões da classe política - afirma Lourenço do Rosário, numa dissertação sobre “Cobertura Jornalística em Período Eleitoral
O ACADÉMICO Lourenço do Rosário reconheceu que os jornalistas moçambicanos estão a aprender rapidamente que devem deixar de ser armadilhados pelos políticos, mantendo-se distantes das suas paixões. Dissertando no seminário recentemente organizado pelo Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS), o também Reitor da APolitécnica instou aos profissionais do ramo a saberem focalizar a realidade dos factos em períodos eleitorais “como sendo uma realidade prenhe de paixões que não devem perturbar o seu olhar”. A pertinência do tema em momento pré-eleitoral motivou-nos a publicar na íntegra a referida comunicação que teve como tema “Cobertura Eleitoral em Período Eleitoral”.
TENHO o prazer e sinto-me honrado por ter sido convidado a dissertar sobre uma matéria que, embora não seja  da  minha área de trabalho, me atrevo a reflectir e apresentar o meu próprio ponto de vista. Por outro lado, esta  é a segunda vez que o Conselho Superior de Comunicação Social me convida para me pronunciar relativamente  ao  que penso sobre o papel da  comunicaço social em determinados assuntos  relacionados  com o direito dos cidadãos e da sociedade à informação.
O capítulo da Constituição que versa sobre Direitos, Liberdades e Garantias abre um vasto campo em que nós, académicos, e vós, da  Comunicação Social, devemos  andar de  mãos dadas  para melhor interpretar  o que nele está plasmado e permitir  que, com a nossa leitura, os  cidadãos  trilhem com conhecimento claro os caminhos da democracia. Por isso, o nosso  compromisso principal e comum é com a verdade. Porém, o conceito verdade nao tem um sentido unívoco, pois nele se entrecruzam a objectividade do facto e a subjectividade do ponto de vista. Quer isto dizer que o espaço entre o objecto e o sujeito que focaliza o dito objecto, dependendo do ângulo em que o referido sujeito se coloca, estabelece necessariamente  um foco que será visualizado  por quem será transmitida a respectiva imagem. Por outras palavras, a mensagem que produzimos sobre uma determinada  realidade depende  sempre de como nós próprios  olhamos essa realidade  em função do nosso próprio  ponto de vista. Na língua, por exemplo, a escolha entre uma frase na activa ou na passiva não é arbitrária. Se dissermos que “David  venceu Golias”  ou “Golias foi vencido  por David”, o foco do facto desloca-se, dando dimensões  semânticas diversas ao sujeito e ao objecto  da acção do verbo. Por isso mesmo, o erro gramatical que muitos de nós, moçambicanos  cometemos em  português quando queremos passar  a frase activa do tipo  “O José deu-me  uma camisa “ para uma passiva “Eu fui dado uma camisa com José”, o  foco semântico da verdade  do sujeito da passiva  não é o objecto directo da acção na activa, uma camisa, mas sim o objecto indirecto da doação, que sou eu a quem foi dada a camisa.
Os direitos, as liberdades e as garantias, consagrados na Constituição, não são naturalmente enumerados  objectivamente, mas sim enunciados. Isto é, nós  sabemos  que temos o direito de eleger  e ser eleitos, dentro de determinados parâmetros, sabemos que temos o direito de informar e ser informados,  nos termos estabelecidos  por lei, sabemos  que temos  liberdades de expressão, opinião e pensamento, há  a garantia de igualdade e não discriminação e somos protegidos  pela garantia do bom nome, honra e presunção  de inocência até que  se prove que prevaricamos em algo previsto e punido nos termos estabelecidos. Nós, como  cidadãos, somos convidados a referendar os  termos que regulem as nossas vidas, quer de uma forma  directa ou indirecta, através de representantes que  escolhemos  de tempo em tempo para o efeito. E é nesta teia que criamos  que se estabelecem as instituições  de gestão, monitoria e repressão. Nós, académicos, e vós, da comunicação social,  enquadramo-nos  no espaço  da monitoria, isto é, compete-nos a missão de avaliar, verificar, acompanhar, detectar falhas, sugerir soluções e eventuais derivações, revelar perigos escondidos e produzir instrumentos  apropriados para a optimização da vida de  todos, melhor capacidade de avaliação dos fenómenos que vão acontecendo.
O nosso compromisso com a verdade não faz de nós  monocolores nem monocórdicos pelas razões  que apontei atrás e que estão relacionadas com a natureza  do conceito verdade. Por isso, no capítulo  da Constituição que citei, também se consagra o direito  à diferença  e a garantia do  respeito por quem  pense diferente. E é aqui  que me parece  que se situa a principal questão,  objecto da minha  reflexão, isto é, o respeito ao direito  à diferença  e o respeito à garantia da liberdade  de se ser diferente. Trata-se de um exercício muito  difícil de executar porque o mesmo tem implicações  intrincadas de natureza  psicológica e social.  É por isso  que, muitas vezes,  quando um determinado académico  ou um jornalista, usando do seu direito de liberdade  de expressão se pronuncia sobre  uma determinada  matéria, aparecem logo aqueles que se dizem apoiantes, quer mesmo os que não se consideram apoiantes, a apontá-los  como corajosos. A pergunta que fica é, corajoso em relação  a que combate? Será que o exercício de um direito previsto e consagrado na Lei fundamental necessita  de uma dose de coragem para ser posto em prática? Será que o exercício  do direito de liberdade  de expressão é um combate? E por que razão deve ser considerado um combate? E por que será que se infere que quem não fala tem medo? Muitas questões que  aqui coloco mereceriam  uma reflexão em  outros espaços, por isso, apresento-as apenas de uma forma indicativa.
Se olharmos  para trás  e se quisermos  percorrer o espaço  de tempo da nossa vida enquanto sociedade de liberdades individuais e colectivas consagradas na Constituição democrática  multicromática, isto é, de  1990, que é quando se estabelece o princípio da diversidade e se estabelecem as liberdades democráticas plasmadas pelo multipartidarismo, e 2009, verificamos  que houve um crescimento real na tomada de consciência dos valores democráticos. As instituições de gestão e monitoria que não só do Estado consolidaram-se  e as de repressão ganharam consciência das suas insuficiências e reconhecem que  devem acertar o passo. Quer isto dizer que falar de jornalismo e cobertura  dos períodos eleitorais  é dissertar  sobre conceitos e práticas com um olhar diacrónico, isto é, como éramos, temos sido e somos hoje, nós, jornalistas, e nós cidadãos.
INFORMAR COM SERNIDADE
Este encontro organizado pelo Conselho Superior da Comunicação  Social pretende  fundamentalmente, quanto a mim, produzir um pensamento metacrítico, isto é, uma crítica  à crítica de lá para cá, de modo a ler todos os passos dados, quais os principais ganhos a reter, que desvios a corrigir e que parâmetros  a recomendar. Sem ser normativo, visa no fundo criar  um espaço em que  o choque  entre ideias e mentalidades permita criar   dinâmicas que impulsionem  o necessário passo em frente.
Em 1994, ano das primeiras eleições multicromáticas, atrevo-me  a dizê-lo de uma forma crua, isto é, sem qualquer cozinhado, a nossa sociedade encontrava-se, toda ela,  praticamente  manietada por um espartilho maniqueísta. Os nossos olhares só podiam  ver dois tipos de grupos, os bons de um lado, de preferência o nosso, e os maus, que se encontrariam do outro lado, qualquer que fosse o campo que ocupássemos. Não é por  acaso que isso se reflectiu, quer na  primeira Assembleia da República multipartidária  em que a maior parte  dos discursos  se centrou  na exorcização dos fantasmas que a prolongada guerra semeou nas nossas memórias, quer mesmo na literatura em que as obras de autores consagrados como Mia Couto, em “Terra Sonâmbula”, “A Varanda do Frangipani” e, sobretudo, em “O Último Vôo do Flamingo”, e Paulina Chiziane em “O Sétimo Juramento”, mas sobretudo em “Ventos do Apocalipse”, em que a caracterização do ambiente romanesco se sistematiza fatalmente  em universo dos maus e universo dos bons, em que o abismo ficcional toma conta da trama. Não é também  por acaso que nós próprios, académicos e jornalistas, abordávamos com muito pudor determinados assuntos, cientes embora do nosso papel e do compromisso com a verdade, mas que para construirmos a nossa verdade sentíamos  imensa dificuldade em situar a nossa  focalização, muitas vezes não era por medo, mas sim porque as ideias voavam da nossa mente. Numa sociedade dominada pelo espírito  maniqueísta, o sentimento de vergonha domina as nossas mentes, temos vergonha de quem não está sintonizado connosco e sentimos pena  de quem achamos  que está cego. Sugiro que revisitem os textos  e as falas que produzimos na época,  para vermos à  distância quão difícil  é reconhecer  grande parte do que  foi produzido e se corresponde ou não  à equação estabelecida  e consagrada  na Constituição sobre Direitos, Liberdades e Garantias. É tudo  um processo. Nas eleições de 1999 e sobretudo nas de 2004 o processo foi encarado com maior  naturalidade e a serenidade tomou o lugar  da paixão e das emoções. Mesmo tendo havido um esboço de um conflito  pós-eleitoral no qual um candidato ensaiou não  reconhecer a vitória  do seu adversário, alegando  fraude monumental e  reclamava a nomeação de governadores provinciais  naqueles círculos em que saira vitorioso, essa agitação  de forum político não contagiou de  forma significativa  o sector de comunicação social e tudo  foi abordado  com a serenidade necessária. Por outro lado, a passagem de testemunho de Chissano para as mãos de Guebuza foi interpretada sem paixões, mantendo-se nas margens  previsíveis  de que em democracia  as mudanças não criam  nem vazios nem sentimentos  de orfandade.
“MEDIA” DEVE ACTUAR EM LIBERDADE
A primeira lição que retiro desta evolução do papel do jornalismo moçambicano  é a de que os seus profissionais estão a aprender rapidamente  que devem deixar  de ser armadilhados pelos  políticos, mantendo-se distantes das suas paixões. Quer isto dizer que o jornalista deve saber  focalizar a realidade dos factos em períodos eleitorais como sendo uma realidade prenhe de paixões que não devem perturbar o seu olhar. Só o facto  de se ter  a consciência  deste pressuposto garante que o jornalista  actue  em liberdade como  sujeito que busca o seu próprio ponto de vista e não actua como  vítima da armadilha que se lhe coloca, não estando ele devidamente avisado.
Mas ao mesmo tempo verificamos que o período em apreço permitiu também que o jornalista  fosse beneficiando de um processo de amadurecimento, através da consolidação dos espaços das liberdades, bem como  no domínio do saber. No exercício  das suas funções passamos a ter profissionais  com maior  tarimba académica, munidos de conhecimentos metodológicos  para o exercício do seu  mister e cada  vez menos  profisssionais que se socorrem apenas da habilidade, apoiados no empirismo  e na esperteza individual.
A segunda lição que retiro é a de que o exercício da profissão de jornalista  já se não faz à maneira antiga  em que  um bom profissional  nasce e faz-se dentro  do jornal, rádio ou televisão e a sua competência  provém  da revelação dos segredos  da própria profissão, à boa maneira  da formação dos feiticeiros. O domínio  das matérias e o conhecimento científico adquirido quer nas escolas vocacionais quer nos espaços  de debate permanente, torna  o nosso profissional mais  atento e com auto controlo na definição  do seu ponto de vista sobre os factos. Na realidade, a formação académica tornou os profissionais mais profissionais.
O jornalista  é um cidadão  como qualquer um de nós, não é um bicho raro nem pertence a uma classe especial imbuída de poderes mágicos. Ao jornalista está distribuída uma tarefa  própria  do sector da sociedade em que se encontra inserido, tal como a um médico, a um advogado, a um mecânico, a um professor, a um engenheiro, a um polícia,  isto é,  como seres  gregários, todos nós estamos inseridos  na vasta  máquina  que permite  desempenhar tarefas sector a sector de modo a produzir resultados para o benefício colectivo. É isso que faz do jornalista  uma peça fundamental para a vida da sociedade, contudo, manda a verdade dizer que qualquer presunção de que se trata de  uma área especial pode criar distorções  na percepção de qual importância relativa tem este sector de actividade, face às restantes. As coprorações têm a tendência de ampliar desmesuradamente a importância relativa que tem para com a sociedade.
A terceira lição que retiro é a de que ao convencer-se  a opinião pública de que a Comunicação Social é o quarto poder, abrimos nós próprios o espaço de inúmeros e equivocados problemas, que muitas vezes dificilmente encontramos solução. O mesmo sucederia se disséssemos que os médicos são o quinto poder, os professores universitários são o X+2 e por aí adiante. O poder tem a magia de atracção que o abismo tem. Por isso, todo o profissional da comunicação social que utilize a presunção de que ser jornalista  é ter poder, fica  confinado aos limites dessa mesma presunção, beneficiando mais o seu próprio ego do que aquilo que realmente deve ser o objectivo do exercício desta profissão, sobretudo em períodos eleitorais. Ninguém ignora a importância que a comunicação  social tem, mas transformá-la em poder é torná-la refém  de interesses que certamente não vão beneficiar os interesses da sociedade.
Por fim, o jornalista também é cidadão, não é um robot, por isso, sente paixões, emociona-se  e adere. Não podemos exigir dele que mate dentro  de si adesões íntimas nem amores partidários. O código deontológico das profissões em Moçambique não incompatibiliza o exercício das mesmas com a adesão  ao pensamento deste ou daquele partido.
A quarta lição que tiro é a de que para um jornalismo sério, ao profissional não está vedada a manifestação  das suas intenções e adesão política, mas o limite que tem é que isso deve efectivar-se apenas enquanto cidadão, não devendo misturar o terreno objectivo e neutro do jornalismo com o terreno subjectivo das paixões partidárias.
Em períodos eleitorais temos todas as possibilidades de interagir com a vasta comunicação social do nosso país, e facilmente verificamos que  a mesma procura viver intensamente o teatro eleitoral. No entanto, a expectativa que se cria à volta  da nossa comunicação social é a de que o seu compromisso com a verdade não seja ferido de morte por agendas pessoais de alguns que se encontram neste sector de uma forma menos séria. Os políticos sabem do poder de sedução  que têm e que podem exercer sobre a comunicação  social e sabem também  da capacidade de penetração nos cidadãos das mensagens  dos agentes da comunicação social, é por isso que se lhes  atribui o epíteto de “o quarto poder”.
Temos, de uma forma geral, a percepção de que o leque que compõe o arco-íris partidário encontra também  alguma correspondência nas opções de alguns órgãos  da nossa sociedade. Porém, aos órgãos de comunicação do serviço público estaria virtualmente vedado que os seus profissionais  pudessem manifestar as suas opções nas suas páginas, pelo menos assim o espera o cidadão contribuinte e a ética profissional. Tenho para mim que o conceito de imprensa independente  deveria em primeiro lugar referir-se aos órgãos de serviço público, pois eles expressam o que se encontra estabelecido na Constituição sobre o direito à liberdade dos cidadãos. A imprensa privada reflectirá seguramente  a linha de pensamento dos seus investidores e a sua independência dependerá sempre do pacto a ser firmado entre o dono e o profissional. Espero pois que a tão desejada independência  dos meios de comunicação social cubra o leque que vai do público ao privado, sendo que a independência consubstancia o compromisso dos profissionais com a verdade.
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“A FEBRE DOS DEUSES” REEDITADA
O LIVRO de contos “A Febre dos Deuses”, da autoria do jovem escritor Andes Chivangue vai ser reeditado pela Índico Editores, uma editora nacional criada recentemente no país.
A primeira edição desta obra foi publicada no âmbito da recepção do Prémio Revelação Rui de Noronha, atribuído ao autor pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento Cultural (FUNDAC), em 2001.
Andes Chivangue conta ainda com um livro de poemas intitulado “Alma Trancada nos Dentes”, obra que foi lançada em 2007 e lhe valeu uma menção honrosa no concurso José Craveirinha.
Recebeu ainda as consagrações FUNDAC (2002), Maria Odete de Jesus (ISPU, 2003).
Ainda pela Índico Editores, saíram os livros “A Bíblia dos Pretos”, pertencente ao jovem escritor Midó das Dores, e “As Andorinhas”, da conceituada escritora Paulina Chiziane.
LITERATURA - Paulina Chiziane apresenta andorinhas em Correntes d’Escritas

Cento e vinte escritores de 15 países, entre eles a moçambicana Paulina Chiziane, reúnem-se a partir de hoje na Póvoa de Varzim, Portugal, para falar de literatura, na 10ª edição das Correntes d'Escritas, encontro literário de expressão ibérica.
Ao longo de quatro dias, os temas em debate são retomados de anos anteriores, numa espécie de "edição comemorativa" dos 10 anos de vida, e está previsto o lançamento de 35 livros.
Juan José Millás (Espanha), Alvaro Uribe (México), Andrea Blanqué (Uruguai), Antonio Orlando Rodríguez (Cuba), Amílcar Bettega (Brasil), Bruno Serrano (Chile), Héctor Abad Faciolince (Colômbia) e António Mega Ferreira são alguns dos autores estreantes nas Correntes e que vêm apresentar novas obras.
Também a participar pela primeira vez, estarão Lêdo Ivo (Brasil), Américo Appiano (Chile), Victor Andresco (Espanha), Joaquim Arena (Cabo Verde), Jorge Arrimar (Angola), Laura Antillano (Venezuela) e os portugueses Alice Vieira, Eugénio Lisboa e Rui Cardoso Martins.
Na lista dos "repetentes" encontram-se os portugueses Eduardo Lourenço, Hélder Macedo, Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, José Luís Peixoto, Nuno Júdice, Maria do Rosário Pedreira e Teolinda Gersão (Portugal), Luís Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar (Brasil), Germano Almeida (Cabo Verde), António Sarabia (México) e Santiago Gamboa (Colômbia) são alguns dos escritores estrangeiros participantes em edições anteriores, bem como Ondjaki, Ana Paula Tavares e Manuel Rui (Angola), Carlos Quiroga e José Manuel Fajardo (Espanha), Karla Suarez (Cuba) e o português Onésimo Teotónio Almeida, que estão "acorrentados" há mais tempo, como costumam dizer.
Até sábado, estes e outros autores falarão sobre "O Desafio da Folha em Branco", "É Literatura Tudo o que Não é Evidente", "A Rua Faz o Livro" e "A Literatura é o Sentido Último das Coisas", entre outros temas.
Na sessão de abertura oficial, esta manhã, serão anunciados os vencedores dos Prémios Casino da Póvoa, Correntes d'Escritas/Papelaria Locus e Conto Infantil Ilustrado Correntes d'Escritas/Porto Editora, que lhes serão entregues no último dia, na sessão de encerramento.
À tarde está prevista uma conferência de abertura.
Lançadas em 2000 pela Câmara da Póvoa de Varzim e já com uma identidade própria - e este ano com uma imagem renovada pelo atelier Henrique Cayatte - as Correntes promovem visitas dos escritores a escolas básicas e secundárias da Póvoa de Varzim, a terra onde nasceu o célebre escritor Eça de Queirós.
Além do lançamento de 35 livros - três dos quais de fotografias tiradas nas nove edições passadas - haverá ainda a apresentação do oitavo número da revista Correntes d'Escritas, inteiramente dedicado ao 10.º aniversário do encontro, e uma Feira do Livro, até sábado.



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DAR OPORTUNIDADE A UMA JOVEM EDITORA
É habitual Paulina Chiziane publicar em Moçambique os livros que produziu nos últimos anos pela Ndjira, depois em tempos o ter feito pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Mas “As Andorinhas”, o novo livro, terá a chancela de uma nova casa, a Índico Editores. Trata-se de uma jovem editora que nasceu em Xai-Xai e que até ao momento apenas um livro, “A Bíblia dos Pretos”, de Dom Midó das Dores.
Perguntámos á escritora se esta é uma viragem nas suas edições em Moçambique, ao que ela respondeu com um peremptório não: “não podemos falar em viragens, porque nada é eterno no que fazemos enquanto formos vivos. O que aconteceu é que um grupo de jovens procurou-me propondo-me que publicasse por eles um livro. Como tivesse este, conversámos e decidi-me pela publicação na jovem editora”.
A Índico Editores é composta por jovens que ainda estão a iniciar-se no mercado livreiro moçambicano. Para a nossa fonte pesou a opção por eles justamente o facto de serem novatos. “Concordo com os políticos quando falam do apoio e incentivos à juventude. A minha opção pela Índico é justamente isso, um incentivo e uma oportunidade que dou aos jovens, porque sinto que eles precisam dessa oportunidade”.
A escritora não diz se esta parceria com a jovem editora se estenderá para o futuro. Prefere enaltecer o trabalho que com ela está a desenvolver, porque – justifica – “não podemos falar do futuro quando o presente ainda não está acabado”.
Bibliotecas públicas recebem 700 mil livros
Cerca de 700 mil livros didácticos, para-didácticos e de ficção e escritos em português, inglês e francês estão a ser distribuídos pelas principais bibliotecas públicas e escolares do país, com destaque para as de estabelecimentos de ensino primário e secundário. Para o efeito, o Ministério da Educação e Cultura, através da Distribuidora Nacional de Material Escolar (DINAME), adquiriu um total de 102 títulos a editoras nacionais e estrangeiras.
Esta medida surge no quadro dos esforços que o sector da Educação e Cultura vem efectuando com o intuito de fazer crescer o hábito de leitura e interesse pelo estudo por parte dos jovens.
O apetrechamento das bibliotecas públicas foi anunciado esta semana durante o III Seminário Nacional da DINAME, onde tomaram parte delegados regionais da instituição. O encontro efectuou o balanço da distribuição dos livros de distribuição gratuita no Sistema Nacional de Educação e para as bibliotecas. Este ano, a DINAME distribui 14 milhões de livros de distribuição gratuita, num processo descrito como positivo, visto terem sido melhorados alguns procedimentos em relação a 2006 e 2007.
Com o apetrechamento das bibliotecas pretende-se ainda permitir que crianças, jovens e adultos enriqueçam os seus conhecimentos e participem de forma activa na vida da sociedade, elevando de forma permanente a eficácia e a eficiência do ensino no país.
Dos livros em distribuição destaque vai para áreas como biologia, física, química, geografia, português, história, francês,  matemática e inglês de classes que vão desde a 8ª a 12ª. Também constam de desenho (6ª), educação física, ciências naturais, educação visual, empreendedorismo, gramáticas e dicionários, entre outros.
Dentre os autores moçambicanos que figuram como autores de alguns dos livros, sobretudo os de leitura, constam nomes como Paulina Chiziane, Mia Couto e José Craveirinha. A distribuição é levada a cabo sob o lema “Vamos pôr o Moçambique do Futuro a Ler”.
Os distritos são descritos como prioritários neste processo, visto serem, quase sempre, os mais prejudicados quando se trata de disponibilizar material de leitura, sobretudo o relacionado com o ensino e aprendizagem.
Assane Sufiane, director-geral da DINAME, explicou que a empresa registou uma melhoria no seu desempenho na distribuição do livro escolar nos últimos três anos, tendo sido introduzido o programa de distribuição de materiais às bibliotecas do Ensino Secundário Geral primeiro, e este ano, também, no Ensino Primário.
A DINAME tem a maior rede de distribuição de material escolar, com armazéns nas três regiões do país, alargando-se gradualmente aos distritos.
“A FILHA DO POLÍGAMO”: O debate que a sociedade precisa

O MUTUMBELA Gogo pôs em cartaz no fim de semana a peça “A Filha do Polígamo”, que marca a estreia na encenação de uma dos seus mais cintilantes rostos, a actriz Graça Silva. É um começo feliz da nova encenadora que desponta do Teatro Avenida, que no ano passado hospedou a estreia – também auspiciosa, na arte de encenar – da sua colega Lucrécia Paco, que adaptou para o palco o romance “Niketche” de Paulina Chiziane.
Uma sociedade polígama, em que a mulher é reduzida à quase insignificância, e em que os chefes de família são – justamente por não serem monógamos – uns ausentes no acompanhamento do seu lar, é o que Graça Silva traz como assunto na sua versão de “A Filha do Polígamo”, peça em que participou, no ano passado, em francês, em Mayotte.
A poligamia é uma prática abertamente repudiada na nossa sociedade, principalmente pelo que ela impõe às mulheres e crianças, às famílias cujo chefe centra – com ou sem dificuldades, materiais ou não – várias mulheres ao seu redor. É esta a visão de uma mulher que usa a sua arte para transmitir uma mensagem, a de que esta prática periga o normal andamento de uma família.
Através de actores experimentados – com quem Graça Silva partilha o palco há vários anos (Adelino Branquinho e Jorge Vaz) e uma novata (Nilza Laíce, do grupo amador Luarte), a história de “A Filha do Polígamo” pode tornar-se na principal atracção deste ano na cidade de Maputo no que ao teatro diz respeito. Porque foi uma peça bem dirigida e está a ser bem representada, principalmente por Adelino Branquinho, que faz o papel de principal polígamo da comunidade representada. Branquinho confirmou, mais uma vez, as suas exímias qualidades, evidenciando ser capaz de representar seja qual for o tema, seja qual for o papel.
Há ainda Nilza Laíce, que faz o outro papel principal, que tem uma prestação que só vem mostrar que o teatro moçambicano tem valores, que podem ser encontrados também bem longe dos grupos grandes (Mutumbela Gogo e Gungu), em formações como o Luarte de que ela faz parte, Mahamba, Mugachi e tantos outros que apenas devido a dificuldades materiais e financeiras não aparecem com regularidade.
Esta peça é um original de um escritor da ilha francesa de Mayotte (no oceano Índico), Nasur Attoumane. Graça Silva participou nela como actriz no ano passado, durante uma digressão internacional do seu Mutumbela Gogo. A motivação para a escolher na sua estreia como encenadora foi simples: “é um tema que se enquadra em nós porque a poligamia ocorre em todas as regiões do nosso país; é o meu contributo para o debate e para que se combata esta prática, porque ela é má”.
Graça Silva está no teatro desde os primórdios do seu grupo, que nasceu em 1986. Aceitou fazer do palco a sua primeira casa, representando muitos papéis em muitas peças ao longo de duas décadas. A sua entrada para encenadora acontece praticamente depois de percorrer várias estações como actriz, sentindo-se agora suficientemente madura para actuar no outro lado de uma peça teatral. E deu o salto, qualitativo, mostrando ser criativa e atenta aos problemas que assolam a sociedade em que ela vive. É por isso que nos convida ao debate.


Fonte: http://www.jornalnoticias.co.mz

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